Há muito tempo atrás uma mulher, empresária bem sucedida, com um bom nível de educação, murmurava no seu estabelecimento todo o sofrimento que vinha sentindo com a morte trágica e prematura do seu irmão. O que mais me deixava inquieto era o fato (compreensível diga-se de passagem) dela culpar e ironizar a Deus pelo o que tinha acontecido ao seu querido irmão: "Deus é tão injusto, tão cruel, como ele pode tirar a vida de alguém tão doce e gentil como meu irmão, tendo tanta gente ruim no mundo?! O que mais me dói é saber que Ele inventou a morte, mas não inventou nada que cure o sofrimento dos que amavam a pessoa que se foi." Dizia ela.
Não consegui ficar calado e balbuciei:
- Mas Ele inventou, sim.
Ela então olhou para mim surpresa e aparentemente irritada com a interrupção brusca dos seus murmúrios e perguntou: É, o quê?
- O Tempo, eu respondi.
- O Tempo? retrucou ela.
- Sim, o Tempo. Você, não hoje, nem amanhã e nem depois de amanhã e talvez jamais esquecerá, mas eu te garanto que todo esse sofrimento que você está sentindo vai passar e tudo que ficará são as boas lembranças que você e sua família tem do seu irmão. Tenho certeza que a cada dia, todo esse sofrimento vai diminuindo até não restar mais nada, e como consequência você ficará mais forte com tudo que foi capaz de suportar, porque Deus estava contigo e você sabe que Ele guardava e sempre guardará o seu irmão na Glória.
Tudo que ela fez foi respirar fundo, e perguntou-me, com um ar irônico, se eu era "crente" (kkkkkkkkkkkkk tive que rir no momento!).
- Sim e não. Respondi
- Sou "crente", mas não praticante (do tipo que vai aos cultos evangélicos e tal), pois na maioria das vezes sou contra às opiniões e sermões do pastor. Sou "crente", porque acredito em Deus, porque eu sei que Ele jamais vai me desamparar e que eu faço de tudo para ser bom e fiel aos Seus olhos e não aos da Igreja.
Ela não respondeu ou perguntou mais nada. Ficou silenciosa, a mexer nos seus papéis. Sei que não disse nada, não por orgulho, vaidade ou indiferença, mas por estar imersa num momento de reflexão.
Acredito que daquele dia em diante, um alívio, pequeno que seja, tomou conta de sua vida.
"AAAAAAAAh, palavras, palavras e mais palavras são tudo palavras!" alguns podem pensar. "Você nunca viveu um momento assim", outros tantos podem dizer. Mas o fato é que hoje, na minha sessão de psicologia de grupo, um dos integrantes era o motorista bêbado que dirigia o carro em que minha linda e querida prima morreu.
Lembro do dia em que recebi a notícia da sua morte e dos detalhes da tragédia. Tristeza e ódio se misturavam, e hoje ao vê-lo na mesma sessão que eu, tudo o que eu senti foi pena e alívio. Pena pelo estado crítico em que o rapaz se encontra e alívio pela minha prima não estar na mesma situação. Não posso negar, que a surpresa não foi das mais agradáveis. No entanto, ao perceber o estado de saúde dele (o mesmo está tetraplégico), um rapaz que a meu ver é bastante jovem e cheio de vida, me ocorreu que o perdão veio quase que automaticamente com o tempo decorrido desde a morte da minha prima. O fato de ter me sentido incomodado com a presença dele na mesma sala, foi tão somente por causa da saudade que sinto dela e por pensar no sofrimento da minha tia, até por estar recente a tragédia, não transcorreu o período nem de um ano desde então e não porque não perdoei (o que demonstraria que ainda sofria com a morte da minha prima tão querida).
- "Tá, mas e daí?" "Para quê tudo isso?" - podem indagar.
Tudo isso, meus amigos, é só para lembrar o quão injustos somos com Deus. Nunca paramos para pensar que em todo o nosso sofrimento, Ele está lá para nos amparar e socorrer. Afinal de contas, Deus dá a cruz só para quem pode carregá-la. Então se Ele confiou em você para a essa tarefa, confie nele para te abençoar e amparar.
P.S: Lembrando que este blog é e sempre será laico. O fato deste post de cunho religioso foi só para demonstrar que é possível textos desta natureza aqui também, para demonstrar toda a laicidade e não o laicismo deste que vos escreve. Vide diferença entre laicidade e laicismo em: http://www.conjur.com.br/2012-mar-21/estado-laico-nao-sinonimo-estado-antirreligioso-ou-laicista
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